por Zé Luís
E após ter lançado toda sua lamentação, pedir a morte a ter que
continuar levando o fardo de ser o único sobrevivente entre os
incumbidos em divulgar a sagrada e santa vontade do Pai , Deus responde:
“-Único? Tenho mais 7000 sãos e salvos, guardados, envolvidos com a
“causa”, e como você, não se dobraram às heresias do momento...”
O profeta conhecia bem a Deus: quando se escondeu na caverna, dentro no
monte Horebe (que significa “deserto”, o conhecido monte de Deus),
buscava desaparecer na escuridão daquele lugar. Muitos de nós, mesmo os
que conhecem o Todo-Poderoso, já procuramos essa fuga: refugio solitário
para os que se frustram, mesmo com vitórias acumuladas, pois a vida
quase sempre é ingrata, e descansar em Deus, mesmo que for para
adormecer eternamente no esquecimento das eras. parece ser a única coisa
que realmente vale a pena.
“O que faz aqui, Elias?” - disse a Voz que nunca saiu dele.
Diante da sua resposta, a vontade imperiosa se fez presente no comando
de uma simples frase vinda de dentro da cabeça de nosso herói, mas
emitida a milhares de milhares de léguas, e ao mesmo tempo, ao lado
dele.
Não havia como permanecer em sua alto-comiseração. Não que ele não
quisesse morrer de uma vez e para sempre. Falecer em Deus valia a
caminhada de quarenta dias e quarenta noites. Esse era o plano do homem
de Deus.
Dirigiu-se à porta da caverna, e ficou esperando o Todo-Poderoso se
apresentar. Um furacão violento, um terremoto, fogo derretendo rochas.
Mas quando ouviu uma voz mansa e suave, pode entender que Ele havia
chegado.
Por que seria diferente? Era a mesma voz que o despertara em sua escuridão. Por que seria outra do lado de fora?
“O que faz aqui, Elias?” tornou a perguntar, e obteve de seu profeta a mesmíssima pergunta.
Elias sabia o que fazer desde o começo. Tinha de Deus as instruções
desde sempre. Sabia o que fazer diante da desvantagem numérica dos
profetas de Baal. Desvantagem deles, claro: O que importa se estavam em
mais de 400 contra 1? No quesito “Deus verdadeiro”, Elias ganhava de por
1 a 0.
O profeta caçoava publicamente dos que faziam firulas em nome de uma
mentira para que ela se tornasse verdade, sabia que um deus fictício não
se geraria diante da frustração de um imenso grupo de pessoas sérias
que o veneravam. Elias, em relação a Baal, era ateu. Como disse antes:
ele conhecia Àquele que servia, e tinha plena consciência que não havia
espaço menor que fosse para qualquer outro Deus que não fosse Ele.
O Todo Poderoso parecia impaciente quando desceu sua chama sobre o altar
e consumiu tudo que ali estava, o sacrífico, e as pedras do altar,
diante da multidão, que sempre foram seu povo.
Orou pela chuva que não acontecia a mais de três anos e um pequeno ponto
no céu foi suficiente para informar ao rei que ás águas necessárias
para matar a sede da população e irrigar os campos que alimentavam a
todos estava a caminho.
Mas sempre há quem mantenha sua posição apesar do desmentido, sempre há a
teimosia daqueles que sua postura imponente e arrogante são mais
lucrativas, mesmo diante das derrotas mais humilhantes. É assim que eles
se fazem em seus reinos na Terra, negando seus erros até o fim, se
fazendo líderes daqueles que não sabem lidar com sua liberdade.
Suas convicções são tão firmes que, mesmo personagens como o próprio
profeta Elias, se intimidam diante de suas ameaças e fogem, preferindo a
morte a ter que encará-las novamente.
O profeta não conhecia gente assim. Ela mostrava que, apesar de Deus ser
onipotente, ela ainda venceria...e Elias acreditou. Seu nome era
Jezabel, e sua personalidade intimidadora e promiscua é vista no fim dos
tempos, liderando um grupo de crentes.
Diante da – aparente - impotência de seu Deus, Elias conhece a opressão
da alma, viu a inutilidade dos feitos do Senhor através de suas mãos, e
questionou a valia de continuar fazendo parte da História que Deus
tinha escrito e onde ele era personagem principal.
“Volte pelo mesmo caminho que veio, reatravesse o deserto pelo qual
fugiu e faça as tarefas que designei para você. Meus planos possuem 3
estágios: se alguém escapar do 1º, possivelmente não sobreviverá ao 2º.
Caso aconteça, é certo que não passará pelo 3º, que por acaso será seu
substituto: tem planos de aposentadoria para você.
O “Grande Eu Sou” não está indiferente à situação caótica humana. Ele
sabe quais os cuidados e atitudes são necessárias, mas não entende o que
seria capaz de intimidar alguém que está sobre ssua proteção:
“O que faz aqui, Elias?”
Seu profeta poderia ter economizado uma boa caminhada pelo deserto, caso
tivesse parado e conversado com seu Mestre. Teve que voltar todo o
longo percurso caminhado.
A depressão parece pecado. Faz com busquemos nos afastar de Deus, não
querer o contato com a “luz-cidez” de sua presença. Nesse estado
queremos mais é janelas fechadas, luzes apagadas e cobertores escondendo
nossas cabeças. O bom homem Dele queria refugiar-se na escuridão do
esquecimento, cansado de lutar e nunca se sentir suficiente para
resolver o que queria.
Era um vitorioso, claro, mas se via como cão magro, escorraçado com um passa-fora de ameaças que não poderiam ser executadas.
Voltar a ouvir a voz, mesmo em meio a escuridão, foi um chamado para
trazê-lo de volta a luz, retornar ao caminho que abandonara em meio ás
confusões que a vida traz, e nos fazem perder o Norte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário