sábado, 16 de abril de 2011

O Jesus imatável

“Se Jesus não tivesse entregue a si mesmo, ninguém o teria entregue” (Santo Agostinho) 

Para abordar a riqueza toda de Jesus Cristo não há outro jeito senão inventar palavras, como imatável, que soa melhor do que inassassinável.

Que Jesus rompeu os grilhões da morte “porque era impossível que a morte o retivesse” (At 2.24), todo mundo sabe. Que Jesus estava com Deus e era Deus no princípio mais distante no tempo e no espaço (Jo 1.1), ninguém duvida. Que Jesus é o Alfa e o Ômega”, o que é, o que era e o que há de vir” (Ap 1.8), os verdadeiros cristãos professam com absoluta segurança. Mas que Jesus é imatável, soa como surpresa para muita gente.

Talvez não haja palavra mais apropriada para mostrar a autoridade de Jesus sobre sua própria vida. Jesus é imatável porque ele não pode em hipótese alguma e em tempo algum ser morto. Foi o Senhor mesmo quem o declarou: “Ninguém [...] tira [a minha vida de mim], mas eu a dou por minha espontânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la. Esta ordem recebi de meu Pai” (Jo 10.18).

Todas as vezes que os cristãos comemoram a morte vicária e a ressurreição de Jesus por meio da celebração da Ceia do Senhor, a idéia do Jesus imatável vem à tona. Pois o oficiante repete as palavras de Jesus pronunciadas no cenáculo na noite de quinta para sexta-feira da semana da paixão: “Isto é o meu corpo, que é dado [ou entregue ou partido] em favor de vocês” (1Co 11.24).

Quando o Verbo tornou-se carne e viveu entre nós, visível, audível e palpável, por um período em torno de 33 anos, houve pelo menos três sérias tentativas de morte contra ele, todas infrutíferas, o que naturalmente reforça a tese do Jesus imatável.

Primeira tentativa Quando o rei Herodes, o Grande, ouviu os magos se referirem a Jesus como “rei dos judeus”, ele se perturbou e tentou localizar o recém-nascido em Belém para lhe tirar a vida. Como os magos não lhe deram a informação, Herodes “ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades” (Mt 2.16). 

Ora, Herodes era um adversário de peso, um homem sem escrúpulos, perigoso e cruel, que já havia mandado matar a sogra Alexandra, os cunhados Aristóbulo e Costobardes, a esposa Mariane e os filhos Alexandre e Antípatro. Ele tinha 70 anos na época da matança dos inocentes de Belém, uns vinte meninos de peito. Mas Jesus não estava entre eles, pois José, por orientação divina, já o havia levado a salvo para o Egito (Mt 2.13-14). 

Segunda tentativa “Jesus tinha cerca de trinta anos quando começou o seu ministério” (Lc 3.23). Certo sábado, entrou na sinagoga de Nazaré, cidade da Galiléia, onde havia crescido, leu duas passagens de Isaías (58.6; 61.1-2) e acrescentou solenemente: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir”. Todos o escutavam com interesse e admiração. Mas, quando Jesus engrossou o discurso, eles reagiram: “Todos na sinagoga se indignaram [e] levantando-se, expulsaram-no para fora da cidade e o levaram a um precipício do monte sobre o qual estava construída a cidade, com intenção de precipitá-lo de lá” (Lc 4.28-29, BP). 

Que Jesus correu sério risco de vida nesse lugar e nesse momento, não resta a menor dúvida. Ele estava no meio de pessoas “tomadas de cólera” (na versão da Comunidade de Taizé) e num lugar perigoso (à beira de um abismo), porém, nenhum mal lhe aconteceu, pois Jesus estranhamente “passou pelo meio da multidão e foi embora” (Lc 4.30, NTLH). Então ele se dirigiu para Cafarnaum, mais ao norte, uma cidade ao noroeste do mar da Galiléia. 

Terceira tentativa Por não ter princípio nem fim, por ser auto-existente, por ser eterno, obviamente Jesus era mais velho que todos os personagens do Antigo Testamento, tais como Isaías (que viveu 700 anos antes de seu nascimento), Davi (que viveu 1.000 anos antes), Moisés (que viveu 1.500 anos antes) e Abraão (que viveu 2.000 anos antes). Isso quer dizer que Jesus não mentiu nem blasfemou ao declarar aos judeus com toda a simplicidade e clareza: “A pura verdade é que Eu já existia antes de Abraão nascer!” (Jo 8.58, BV). Na verdade, Jesus foi muito mais peremptório, por ter usado o título divino “Eu Sou” (ou “Eu Existo”), cujo verbo está no presente. Foi com esse nome que Deus se apresentou a Moisés quando o incumbiu de retirar o povo de Israel do Egito (Êx 3.14-15). 

Porque não reconheciam Jesus como Deus em figura humana, os judeus não acreditaram nele e entenderam que ele estava blasfemando o santo nome de Deus e, portanto, de acordo com a lei, era réu de morte (Lv 24.15-16). “Então eles apanharam pedras para apedrejá-lo” (Jo 8.59). O Evangelho de João não entra em detalhes, assim como o de Lucas no episódio anterior, de Nazaré. Diz apenas: “Jesus se ocultou [ou se escondeu] e saiu do templo”. 

O que aconteceu na sexta-feira 
A prisão e a morte de Jesus na sexta-feira anterior à ressurreição não colocam em dúvida a sua já citada declaração: “Ninguém tira a minha vida de mim”. Nem desacreditam a sábia observação de Santo Agostinho: “Se Cristo não tivesse entregue a si mesmo, ninguém o teria entregue”. Aliás, é pertinente lembrar que Jesus não é apenas imatável, ele é também imprendível. Embora os judeus tivessem tentado prendê-lo várias vezes, não conseguiram porque, como João mesmo registra, “a sua hora [de ser preso e morto] ainda não havia chegado” (Jo 7.30; 8.20). Ambos os infortúnios (prisão e morte) e ambas as manifestações gloriosas (ressurreição e ascensão) estavam em sua agenda e iriam se concretizar no tempo oportuno, uma coisa depois da outra. Quando chegou a hora exata de sua prisão e morte, o próprio Jesus o admitiu: “Eis que se aproxima o momento, e já chegou” (Jo 16.32, TZ).  Somente aí, na manhã de sexta-feira, nem antes nem depois, Jesus foi preso, e, cerca de nove horas depois, morto. Poucos dias antes, frente ao sofrimento prestes a chegar, o Senhor suspirou: “Agora estou sentindo uma grande aflição. O que é que vou dizer? Será que vou dizer: Pai, livra-me desta hora de sofrimento? Não! Pois foi para passar por esta hora que eu vim” (Jo 12.27, NTLH). 

Antes de afirmar que ninguém teria o poder ou a ocasião de lhe tirar a vida, Jesus se apresentou como o bom pastor e definiu o caráter do pastor não-mercenário: “O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). 

Em meio aos acontecimentos da Sexta-feira da Paixão há pelo menos mais duas evidências de que Jesus é de fato imatável. Quando Pedro puxou a espada para defender o Senhor no Jardim do Getsêmani, Jesus ordenou que ele recolhesse a arma e lhe disse: “Você não percebe que eu poderia pedir ao meu Pai milhares de anjos [mais de doze legiões de seis mil seres extra-terrestres] para nos protegerem, e Ele os mandaria no mesmo instante?” (Mt 26.53, BV). Em outras palavras, Jesus estava explicando: “Eu posso escapar de mais esta séria tentativa de morte, como escapei das anteriores, mas, desta vez, não o farei”. Quando Pôncio Pilatos caiu na asneira de dizer a Jesus que, na qualidade de governador romano, tinha poder para libertá-lo ou crucificá-lo, o Senhor respondeu de pronto: “Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima” (Jo 19.10). 

A inefável generosidade de Deus 
Ninguém deve nem sequer imaginar que a renúncia de Jesus em usar sua ilimitada autoridade (Mt 28.18) e seus extraordinários recursos em favor da liberdade e da vida foi algo suportável e fácil, à vista de sua dupla natureza (humana e divina). Naquele dia sombrio (as trevas cobriram toda a terra do meio dia às três horas da tarde), Jesus deixou-se prender (ele foi amarrado, algemado) e deixou-se matar (ele foi espancado, esbofeteado, açoitado, ferido e crucificado). Jesus não foi anestesiado antes de ser desprezado e rejeitado pelos homens, atingido e afligido por Deus (como representante do homem pecador), traspassado e esmagado por causa de nossas iniqüidades, e finalmente levado para o matadouro e eliminado da terra dos viventes (Is 53). Durante os seus trinta e poucos anos de permanência no tempo e na história e na companhia dos homens (Jo 1.14), em nenhum momento Jesus abriu mão de sua divindade nem de sua humanidade. Na madrugada daquela sexta-feira no Getsêmani, Jesus começou a entristecer-se e angustiar-se e desabafou com seus discípulos: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal” (Mt 26.38). Ele chegou a desejar o afastamento do cálice de sofrimento e morte, na famosa oração três vezes feita com o rosto em terra: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero [neste momento], mas sim como tu queres” (Mt 26.39). A prisão e a morte de Jesus Cristo não foram encenações teatrais, mas experiências vividas. Os dois infortúnios atingiram aquele corpo gerado pelo Espírito Santo no ventre de uma mulher virgem, que quase foi morto por Herodes ao nascer e que então morreu por sua espontânea vontade. É por isso que os celebrantes da Santa Ceia repetiu sempre: “Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês” (1Co 11.24). Paulo deixa bem claro que a reconciliação entre Deus e os homens foi feita “por meio da morte do seu próprio corpo humano na cruz” (Cl 1.22, BV). 

Porque Jesus é imprendível e imatável, mas deixou-se prender e matar em benefício da nossa plena redenção, “agradeçamos a Deus o presente que ele nos dá [o próprio e único filho], um presente que palavras não podem descrever” (2 Co 9.15, NTLH)!

segunda-feira, 11 de abril de 2011


Prostitutos Cultuais e Mercadores da Fé

Eu estava tentando encontrar um adjetivo para qualificar os atuais cantores e pregadores que cobram elevadas somas em dinheiro para pregar ou cantar nas igrejas e em conferências promovidas por evangélicos, e achei que “mercador da fé” não é um adjetivo apropriado, porque é simples demais para nominar tais pessoas. Pois bem. Vejo esses exploradores da boa-fé evangélica como prostitutos cultuais – que é a tradução da versão atualizada – para os que se prostituíam junto aos templos pagãos e que depois passaram a se prostituir diante do templo do Senhor em Jerusalém. Porque os prostitutos (as) cultuais mencionados na Bíblia exploravam os que se dirigiam ao templo para adoração oferecendo-lhes um pouco de orgia – orgia sexual revestida de espiritualidade, como alguns desses a que me refiro que falam línguas, profetizam, oram pelos enfermos, são místicos e super espirituais… Mas orgiofantes (como os sacerdotes que prestavam culto a Dionísio).
Os prostitutos e prostitutas cultuais, comuns nos templos pagãos passaram a conviver com os adoradores junto ao templo de Jerusalém, indicativo de uma deformação espiritual da nação de Israel. Não estou afirmando que é comum tais pessoas se prostituir de verdade, em orgias sexuais; estou afirmando, isto sim, que sempre que uma pessoa se afasta de Deus, comete prostituição com outros deuses – fato mencionado pelo próprio Deus em várias passagens do Antigo Testamento. Em Ezequiel 16 ele compara Israel a uma menina, que é cuidada por Deus, adornada e preparada para ser esposa, mas se prostitui com os povos vizinhos.
Deus se antecipou ao que poderia acontecer e recomendou a Moisés: “Das filhas de Israel não haverá quem se prostitua no serviço do templo, nem dos filhos de Israel haverá quem o faça… Não trarás salário de prostituição nem preço de sodomita à Casa do Senhor, teu Deus (Dt 23.17-18).
O que se vê hoje no Brasil é uma orgia espiritual, uma masturbação coletiva praticada por cantores e cantoras, pregadores e pregadoras, que não conseguiram fazer sucesso no mundo e encontraram na igreja um filão de negócio; o caminho para o enriquecimento à custa da espiritualidade dos irmãos.
Imagine o Lázaro da Bíblia, que Jesus ressuscitou dos mortos gravando seu cd e saindo pelo mundo a pregar nas igrejas, usando os recursos para comprar bens e imóveis em Atenas, Roma e Jerusalém. Imagine Dorcas, relatando sua ressurreição e insinuando aos irmãos por onde pregava que precisava de dinheiro para comprar máquinas de costura a fim de ajudar os pobres com maior eficácia, lucrando com a bênção alcançada. Eles seriam excluídos do rol de membros do céu pelos apóstolos. Pois sei que esses excrementos espirituais – e não há palavra melhor para descrever tais pessoas – cobram preços exorbitantes para pregar e cantar. Eu estava numa cidade pregando o evangelho e em várias cidades daquele Estado os irmãos se mobilizavam para ouvir o ex (que deve ter fracassado no mundo) cujo preço varia de 20 a 35 mil reais por apresentação. Este cantor que explora a espiritualidade do povo deve ganhar, pelo menos, com a agenda cheia em torno de cem mil reais por semana! Sim, porque fazem sucessos os ex-, sejam ex de quaisquer espécies. Ex que tocou na famosa banda do mundo; ex- que se prostituía com drogas, mas agora se prostitui com dinheiro. Prostituem-se com a fé. Sim, porque quais prostitutos cultuais do AT usam da espiritualidade para fazer orgia com o povo com o fim de levar o povo a se alegrar, enquanto eles ficam ricos.
Uma denominação pentecostal nutriu, alimentou e criou um pregador que cobra o exorbitante preço de quinze mil reais por pregação e nunca tomou uma atitude corretiva e disciplinar quanto a seu enriquecimento e vida pessoal; ao contrário, alimenta o sucesso desse mercador de dons. Balaão se sentiria envergonhado!
Assim, quando viajo pelo Brasil sinto no ar o odor fétido que eles deixam por onde passam; o odor da prostituição espiritual, o cheiro nauseabundo que costumam exalar os espiritualmente mortos. Que se prostituem espiritualmente e que levem pastores, líderes e povo à prostituição com eles é inegável, e não é de se duvidar de que se prostituam literalmente em seus confortáveis quartos de hotel. Pregadores e cantores que fazem exigências incomuns; que não aceitam fazer uma refeição na casa de irmãos; apenas em restaurantes que servem a La Carte. Que não se contentam com os bons hotéis e se não houver os melhores, recusam-se participar de eventos a menos que suas exigências sejam atendidas.
Os culpados são os líderes que atraídos pela ganância financeira esperam obter lucros com os gananciosos. Certamente porque muitos pastores, apóstolos e líderes se prostituíram espiritualmente, empolgados com as riquezas deste mundo, sonhando com mansões no litoral brasileiro e nas famosas cidades dos Estados Unidos.
Que posso dizer? Afirmar que alguns desses pastores que apóiam tais cantores e pregadores, juntamente com estes sejam descendentes de Balaão – que se prostituiu e usou de seus dons para ensinar Balaque a armar ciladas para os filhos de Israel – seria ofender o profeta do Antigo Testamento, que por seu pecado foi morto por Josué. Quem sabe possuem o DNA de Judas, ou são da mesma linhagem espiritual que vendem o nosso Senhor em troca das benesses de Mamom. Pedro e Judas descreveram tais cantores, pregadores e pastores com adjetivos pouco recomendáveis, afirmando que estes “andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores… Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam junto convosco; tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos; abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça… Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas”
Por mistificações o apóstolo está se referindo aos que usam dos dons espirituais para se sobrepor aos demais; eles têm dons, são místicos e falam como se uma nuvem de transcendência divina repousasse sobre eles.
Faz-se necessária uma limpeza na igreja, a Casa de Deus, como fizeram Asa e Josafá. Asa tirou de cena sua própria mãe e “removeu os prostitutos cultuais” que usavam o templo como local de prostituição. Josafá ainda precisou intensificar a reforma, porque, de tempos em tempos os aproveitadores da boa vontade do povo; os exploradores da espiritualidade das pessoas, tais como eram os filhos de Eli aparecem na igreja de Deus (1 Rs 15.12; 22.47).
Uma igreja rameira serve de alcova para os exploradores da espiritualidade do povo. E Deus haverá de limpar sua igreja.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ser Crente


Por Pr. Edmilson Mendes








Peguei-me pensando sobre as exigências da instituição igreja e as expectativas da sociedade em relação aos crentes. Veja a lista abaixo, talvez você se encaixe em alguns critérios, sofra com outros ou queira acrescentar itens. Na real, a lista é um tipo de cartilha sobre como deve ser um crente.

01- Cabelo bem cortado, para homens. Crescido, para mulheres.

02- Pontual, nunca se atrasar.

03- Não beber, não fumar, não dançar.

04- Não adoecer e sempre prosperar.

05- Guardar mandamentos com rigor farisaico.

06- Ser feliz e fazer caridade.

07- Ser dizimista e bom contribuinte.

08- Fazer constantes sacrifícios.

09- Vestir-se sempre bem e discretamente.

10- Cumprimentar a todos e sorrir para todos.

11- Nunca estourar, ser um modelo de calma.


Você deve conviver com exigências parecidas. E fáceis. O título deste texto não é sobre a lista que acabou de ler, pois trata-se de regras para se medir, auditar, controlar, enfim, comprovar quem é mais ou menos crente, errado ou certo, ímpio ou pecador. Tem sido por causa de listas similares que a igreja se envolve em questões sem fim. Entre elas, uma das mais problemáticas para a saúde espiritual, o erro de santificar tais regras contidas em tais listas. Não questiono a necessidade das regras, clubes têm, empresas têm, escolas têm. Porém, do clube, da empresa e da escola o que levarei para minha vida não é a obrigatoriedade dos exames médicos, da mensalidade, do uso de uniforme ou do horário para bater cartão, mas sim o prazer da piscina e da quadra, a gratidão pela minha formação acadêmica e todas as conquistas e realizações profissionais. Assim deveria ser na igreja. Para muitos, no entanto, não é assim.

Seguir a lista acima é das tarefas mais fáceis. Qualquer hipócrita consegue fingir ser crente, enganar os crentes e construir carreiras nas comunidades dos crentes. Caso não goste da palavra crente, use evangélico ou cristão, não muda nada, a dificuldade seguirá sendo a mesma, pois somos medidos e julgados por desempenhos que as regras determinam e que os outros podem ver.

Ser é diferente de aparentar. Quem é, é na praia, no shopping, no condomínio, na galera, no conselho, no presbitério, no churrasco, no velório, na formatura, no trânsito, no cartório, na dureza, na fartura, na sanidade, na loucura, na vida, na morte. As dificuldades que a instituição igreja criou ao longo das décadas e séculos fabricou a atual maquiagem gospel que incentiva a satisfação com o aparente, e fácil, e esquece as feridas inflamadas no interior, e difíceis.

Ser crente não é fácil, pelo simples fato que amar não é fácil, mas é preciso. Imagine fazer uma faculdade de medicina por correspondência sem nem ter concluído o primeiro grau, é assim que muitas vezes vejo o tipo de amor que vivemos, muito distante daquilo que ensina o evangelho.

Estamos vivendo a era das fobias. Uma sociedade que se pretende todas as suas imaginadas liberdades cria leis que as garantam. "Não mexe comigo, avisa o ofendido, senão meto-lhe um processo". Tal ambiente só aumenta as inseguranças e estremece as convicções. Não queremos fugir da arena, da praça ou do areópago, mas não sabemos como lutar, se com as demonstrações fáceis do nosso cristianismo de cartilha, ou com as demonstrações difíceis.

Paulo, aos Gálatas, dá uma dica. Segundo o apóstolo, devemos viver e conviver com o melhor, e mais difícil, que são as características do fruto do Espírito. Ao final de cada ciclo, a invisível profundidade do fruto do Espírito tornará tudo mais fácil, pois conforme a afirmação clara de Paulo, contra o amor, a paz, a paciência, a bondade, a fé, a mansidão e o equilíbrio não há lei.

É difícil, mas sempre valerá a pena.